Com mais de 140 milhões de eleitores, 32 partidos registrados e eleições regulares a cada dois anos, o Brasil é uma das maiores democracias do mundo. Democracia vigorosa e barulhenta, mas ainda bastante recente, pois até 1985 os analfabetos eram proibidos de votar e apenas em 1989 foi efetivamente sepultada a ditadura civil-militar de 1964, com a volta das eleições diretas em todos os níveis de governo.
É, talvez, porque o país ainda esteja na infância democrática, aprendendo a lidar com as tensões naturais dos embates ideológicos e aperfeiçoando seu sistema político-partidário, que haja tanta incompreensão e algum desdém da comunicação política. Popularizada entre nós como “marketing político”, a atividade ainda é vista por muita gente como uma espécie de feitiçaria, praticada por sacerdotes obscuros ditos “marqueteiros”.
Estes seres misteriosos, pouco conhecidos e muito falados, teriam poderes paranormais de manipulação de candidatos e de encantamento dos eleitores, produzindo resultados eleitorais imperfeitos. Para os críticos mais extremados, seriam mesmo um abscesso, um tumor maligno no corpo da política virtuosa, a ser feita “sem truques”, por políticos “de cara limpa”.
Nada mais falso do que isso. Primeiro, porque a comunicação é a própria essência da política e simplesmente não há fato político se não houver o ato comunicativo correspondente a ele.
Depois, porque a comunicação política existe desde sempre, desde a mais remota Antiguidade, e é exercida tanto em regimes autoritários quanto nas democracias, embora só encontre plenitude e legitimidade quando dá suporte a eleições livres e a governos devidamente eleitos.
E, finalmente, porque os marqueteiros nada são além de assessores de comunicação, tradutores de projetos políticos para a linguagem popular. Não manipulam nada além das técnicas correntes da melhor comunicação social, em benefício da clareza e do entendimento dos processos eleitorais.
O mercado brasileiro da comunicação política, ainda essencialmente sazonal, mobiliza a cada biênio milhares de jornalistas, publicitários, radialistas, cineastas, sociólogos, advogados, atores, produtores, músicos e informáticos, entre outros trabalhadores. Movimenta milhares de empresas, sobretudo agências de propaganda, gráficas, produtoras de vídeo, estúdios de áudio, institutos de pesquisa e empresas de tecnologia. Afeta, de alguma forma, todos os municípios brasileiros.
Entre as eleições, a comunicação política auxilia governos a definirem as suas estratégias de divulgação de obras e serviços, supervisiona as campanhas de prestação de contas, discute opções para o enfrentamento de crises. Na mesma linha, auxilia organizações sociais e inclusive empresas privadas, orientando a sua comunicação institucional com o grande público.
Marqueteiros vem para dar visibilidade a esse amplo mercado. Vem para fortalecer as suas empresas e valorizar os seus profissionais. Mas, antes e acima de tudo, vem para qualificar a política brasileira. Para auxiliar parlamentares, governantes e candidatos, em seu diálogo com a cidadania. E para favorecer o debate elevado de ideias, democrático, consequente.
Marqueteiros pretende ser o grande fórum da comunicação política no Brasil. Falem o que quiserem da atividade, mas conheçam o que ela é, quem a faz, e como essa gente contribui para o avanço do país.
Jornalista, diretor de televisão e professor, tem 40 anos de atividades em mídia eletrônica e impressa. Dirigiu, editou ou colaborou nos principais veículos brasileiros. Organizou nacionalmente a televisão universitária. Atuou em 19 campanhas eleitorais.